Nestas pausas entre tratamentos, tenho sido forçada a aprender a lidar com a espera. Se há virtude com que não fui dotada é a paciência e aliada à falta desta, vivo em constante estado de ansiedade e tensão. Não é que me aperceba disso especialmente nesta fase mas, tenho indícios físicos destas coisas. A tensão é tanta e acumula-se toda nas costas, conclusão não tenho trapézios (músculos!) tenho dois blocos de pedra no lugar destes!
Nestas fases de espera, tenho sempre a sensação que a minha vida tem sido vivida em função da infertilidade e dos tratamentos. Em nome da infertilidade tenho deixado de lado a minha vida à espera de poder vive-la, projectos à espera de tempo para serem concretizados, à espera do dinheiro que a infertilidade absorve e que não chega para tudo, à espera de melhor altura para viver.
A nossa vida como casal tem sido vivida nestes moldes. O prazer simples de partilhar a minha vida com o homem que amo é tantas vezes asfixiado pelos problemas!
Apercebo-me destas falhas na minha vida, precisamente nestas alturas em que não tenho planos concretos definidos, para um futuro próximo e só me resta esperar. Nestes momentos é que me apercebo do vazio em que vivo.
Em conversa com os colegas do serviço, falava-se do facto dos casais jovens viverem, aqueles que deveriam ser os melhores anos da vida em comum, a debater-se com dificuldades financeiras que surgem quando há hipotecas para pagar a casa e o carro, quando a estabilidade dos empregos e a segurança profissional estão em causa, como infelizmente é cada vez mais comum acontecer. Diziam elas, mulheres com filhos adultos jovens, que existem muitos casamentos jovens que acabam em divórcio, precisamente porque a pressão é tanta que, o amor não sobrevive aos problemas. E eu acrescento, a todos estes factores, quando se junta um problema como a infertilidade, os sentimentos que unem um casal têm mesmo que ser muito fortes porque, se não o são, é praticamente inevitável a ruptura.
Não quis deixar um discurso pessimista, é mais uma reflexão e um olhar para trás, no meu percurso de vida recente. Entretanto, continuo à espera de melhores dias...
Um beijinho grande
Lita
P. S. Hei-de cá vir deixar mais umas receitas que experimentei e foram aprovadíssimas!